Se fosse novela mexicana, a política baiana estaria vivendo um daqueles capítulos de gritos, lágrimas e um vilão condenado pela justiça, que ainda insiste em ser mocinho. A prisão de Jair Bolsonaro a 27 anos é a bomba da vez e, como todo rojão que explode em pleno carnaval, deixou os foliões do bolsonarismo na Bahia completamente desnorteados, sem saber se dançam a marcha fúnebre ou se esperam a próxima micareta política. O fato é: o movimento já era pequeno, agora virou praticamente um bloco de “três por quatro”, daqueles que nem conseguem fechar um carro de som.
No meio desse enredo tragicômico, aparece a figura de ACM Neto, o ex-prefeito de Salvador, herdeiro político e, agora, supostamente candidato a herdar também os órfãos de Bolsonaro. É quase como se ele fosse o tio distante que aparece no velório da família só para garantir que ninguém mexa na herança. Até outro dia, Neto jurava que não era bolsonarista. Fugiu das fotos, evitou abraços mais calorosos e, em 2022, parecia mais preocupado em não se sujar de óleo de pastel do que em dividir palanque. Agora, com Bolsonaro atrás das grades, ACM vira a “última esperança” para o antipetismo baiano. É o famoso: “se não tem tu, vai tu mesmo”.
A situação beira o cômico. O bolsonarismo, que prometia parar o Brasil caso o STF confirmasse a condenação, não conseguiu sequer lotar a Barra em Salvador. O máximo que conseguiram foi reunir algumas centenas de militantes, mais parecendo uma excursão de formatura mal organizada do que um ato político. Postagens indignadas em redes sociais substituíram as avenidas lotadas, mostrando que o movimento virou mesmo coisa de “ativistas de sofá”. A Bahia seguiu seu ritmo normal: praia cheia, acarajé frito e, claro, a política local mais preocupada com a briga Jerônimo x Neto do que com um ex-presidente condenado.
No fundo, o dilema é simples: ACM Neto vai ter coragem de assumir o papel de “sucessor espiritual” de Bolsonaro ou vai tentar manter aquele ar de independência calculada? Se optar pela primeira, corre o risco de afundar abraçado num cadáver político que fede a mofo. Se optar pela segunda, talvez até consiga conquistar os órfãos desesperados do bolsonarismo, mas terá que ouvir, dia e noite, as acusações de ser “bolsonarista enrustido”. É o tipo de escolha que nem conselheiro espiritual resolve.
A possível renúncia de Neto — ventilada por adversários como quem espalha boatos de fofoca em fila de banco — acrescenta ainda mais tempero ao prato. Afinal, se o líder da oposição na Bahia pensar em largar a vida política, seria o equivalente a jogar a toalha antes mesmo de subir no ringue. Mas, como estamos no Brasil, onde política e comédia caminham de mãos dadas, nada é impossível.
Enquanto isso, os bolsonaristas baianos vão descobrindo, a contragosto, que o mito virou lenda. E, como toda lenda, serve mais para ser contada nas rodas de bar do que para disputar eleição.